jeudi 25 août 2011

Carta de amor


Carta de amor de Inez a Pedro

Pedro,

Bem de dia ou de noite,
pedi que me dissesses bem de nos,
e que o amor transbordasse no dobrar
dos lençois.
E que mais filhos viessem desta dor
e com alguns risos, para bem da vida
que nos obrigava a tanto.
E o homem que eras, acolheu oscilante,
essa soledade de menino antigo.
Nessas noites ou meios dias
corriamos as persianas com o dia a empurrar
o amor para a cama.
E desse bem recolhido e aconchegado,
alargado, dizias, se concebiam nesse lavrar
as milagrosas vidas dos filhos que chegavam.
Nada mais pedir que essa dàvida e que mais nao fosse,
talvez o perdao de todas as traiçoes
que avassalavam a nossa sorte…
Nao te espantes agora, filho de um rei,
Que no meu canto distante,
repita baixinho o teu nome, o da infância.
Amando-te tal qual um menino,
Fico de peito cerzido, bordado a ponto cruz.
Desafio-te, invisivel quase,
Com o meu corpo tao bem cuidado,
A querer escorregar para ao pé do teu.
Ah, que a paciência seja bem piedosa
com o desejo !

( outro dia)

Pedro,

Migalha de pao na mao do crente,
amasso o po do leito, deito-me entre o bem
e o mal, sonho e nunca durmo.
Suspira um cao à porta do inferno,
jà me roeu o osso e eu, continuo a subir.
Isto é um mal que veio por bem.
E muita dor e pouca luz,
invisivel mao aguda
maos lilases, mao de passeante,
cumpre a nossa jura
em jardins exaltados com promessas
e desejos alheios, prova tormentos
distâncias e fico eu bem, a descolar
os meus beijos das paredes, juro.
E aqueles que te dei, segredados, molhando-te
os cilios, olha neles a memoria de todas as amantes
e o bem que alimentavam,
enchendo-te o corpo de leite e azulando-te o céu da boca.
Que o bem deste pacto seja o rio
que nao para de te sorver a boca,
de refrescar-te a nuca.

So bem te quero dizia o malmequer à lua,
e pôs-se a crescer mais alto,
como o tornesol e bem-mais-amado
ficou, assim como eu fico, mais perto da Sua luz.

Inez de Castro, Paris 25 de maio de 2008, 2011

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