jeudi 11 septembre 2008









Depuis que vous êtes parti la fontaine des amours c'est tarie...


Lamentation de Pedro, o cru

Ma belle amante, ma petite, mon cœur,

il est tard, il est déjà trop tard,

c’est fait et plus à refaire.

Mon cœur a séché,

je me noie dans la rareté de ses larmes.

Il est tard, il est déjà trop tard.

Les vers,

les insectes vont te dévorer,

le temps fera de toi

un paillon à la nuit brève.

Les morts regardent de l’autre côté de l’abîme,

de l’autre côté du puits,

ils arrivent du fond de la peur.

Oh ma belle amante, ma toute petite, mon cœur!

La barque de Caron ne peut se fier à la lune.

Ombres et battements d’ailes furtifs

glissent sur le Styx.

Va-t’en mort !

Gueule de chauve-souris au museau ridé.

Elle te prend sous son manteau de poussière.

Des fleurs poussent sur les pierres.

Il est tard, il est déjà trop tard.

Mon amante, ma toute petite, mon cœur,

j’ai un couteau planté dans ma bouche.

Une dent de loup te coupe la lèvre,

et c’est moi qui saigne.

Après t’avoir pleuré,

après avoir ri aussi
je te dis:

Ma toute petite, ma belle amante, mon cœur !

Dieu t’a insufflé la vie

par le « baiser de sa bouche «

tu as avalé une partie de son âme.

Après, tu as chuté dans le monde

et je t’ai rencontré.

Il faut rendre aux choses leur gloire.

Nu dans les plis de nos draps,

je crie à la nostalgie.

Tu as le visage gris de l’absence.

Tu es la mère du vent,

reviens et souffle sur ma peine.

Sur la pourpre désolée de mes lèvres,

Sans toi, j’ai les mains déracinées.

Sens-tu le benjoin, la myrrhe et le nard ?

Ils embaument tes cheveux coiffés par Martin.

Ma belle amante, ma toute petite, mon cœur,

il est tard, il est déjà trop tard.

Les oiseaux tombent dans le puits,

tu suis ton étoile, nous sommes faibles,

les animaux sont faibles,

l’un est le lieu de l’autre.

Oh mon cœur, ma toute petite, ma belle amante!

Mon dernier cri est pour toi.

Sur ton lit de mort,

je libère mes mains.

Pour toi, la rose se plie

De beauté et de velours rouge.

Pedro, o cru, Bruxelles, Paris, 31 octobre 2005.


samedi 6 septembre 2008





Ultima carta de amor de Inez a Pedro

Pedro, hoje dispo-me à nascente da fonte e ouço o melro
enrolar o seu canto na força desobediente do rio.
Como ele corre lambendo o flanco das margens.
Agudo o grito do pavao branco que se passeia por perto.
Estranha a beleza que em envolve nesse instante.
Parece-me ver tudo descolado do mundo.
Uma poesia escandalosa nua e obscena na sua cruel beleza.
Vivo agora e posso morrer jà, tanto este mistério me é favoràvel
e se conjuga à desordem que anima o meu sentir.
Nseta hora de exaltaçao pura, nao chamo por ninguém.
Nem por ti, mesmo que saiba onde vives e esperas.
Nao consinto que neste momentode irrealidade,
e profundo amor por tudo o que vive e me està proximo da mao,
venha a tua dùvida perturbar-me a mente.
Estou nua e viva e nao penso em nada.
Esta brisa é fresca e cortante, a pele enrija os dentes juntam-se,
cerro os punhos, se que devo guardar tudo,
mesmo os gestos mais bruscos e doridos.
Muros, ruinas e musgos frescos na sombra.
Ah se fôr hoje o dia da traiçao e do punhal,
saberei dizer à minha carne que nao sou corrupta como ela.
Estou a inchar de medo neste amor profundo, como um ventre
doente e dorido.
Tenho na pele escrita por dentro o teu nome pintado.
Como a santa limpando o nome do Senhor,
avanças-te o linho
que me era a carne, e por dentro, por dentro limpaste
o rastro frio do teu coraçao.
Foi como naquela ultima noite em ti,
onde através das tuas palpebras
eu via o teu sonho, e as flores eram o orvalho juntinho
como pérolas e bùzios, tanta imaginaçao
me dava febre e a tua mao na minha eu nem respirava.
Beijava-te os dedos um a um e recomeçava
contando até mil, para que a noite fosse mais longa.
Punha-me a fechar os olos e a pedir a Deus
que voltasse ao inicio do mundo para te puder esperar.
Jà é outra vez manha para todos nos,
devo-me vestir, tratar dos que me rodeiam,
voltar a ser outra e sem vontade.
Junto a eles rezo coisas sem nexo e o amor é tanto
que o sorriso me acolhe na sua boca oferecida,
encontro toda a leveza do meu pecado.
Lavo neste rio os braços e as maos que te rodeiam
quando neles te enrolas.
Deixo-os assim ao gelo, redondos e suspensos,
quero oferecer a coroa deste corpo
a um ausente, e até que a dor se desvaneça,
sem ter ninguém para me reter.
Tenho frio, o que vim eu aqui fazer nesta manha violeta
ainda por desabrochar?
Entre estrume lirios piso serpentes e o veneno triste sobe-me pelas veias.
Ouço o sino da capelinha a ressoar, abre-se o arvoredo às minhas maos.
Se fugisse agora virias ao meu encontro?
Descer por ai abaixo como as cartas de amor,
que escorregam até ao refùgio amigo da rocha.
Ou serai melhor deixar-me afogar?
Se quiseres saber o que me leva a ficar injustamente perseguida
e imovél vais ter de ter paciência e guardar os olhos postos na eternidade.

Inez, Paris 20 de Maio de 2004.

cartas de amor de pedro e inez, le reste est silence







Cartas de amor de Pedro e Inez

Pedro,
Me voici prête au dernier adieu, puisqu’il allège le peuplier
de ses feuilles sombres, tardives.
Il y a des roses qui habillent ma gorge de satin parfumé.
L’odeur m’apaise et la nuit rentre en moi par la bouche
Et fait éclater ma poitrine.
Ma peur se roule à tes pieds, se cache sous la terre que tu parcours.
Je suis l’oiseau poursuivi par les chiens d’un roi qui ignore tout de la passion.
Un insecte apeuré et ses ailes me crucifient à un destin
qui s’écrit par-delà un lit de pierre dentelée.
Je demande au vertige de ne pas rougir l’eau de notre fontaine,
qu’il tarde de le faire.
Le quart de lune décroisse encore sous le lourd
témoignage de ce crime.
Il est le seul témoin de cet abandon.
L’adieu est l’oraison que je répète au temps qu’ils me volent,
à la vie qui me reste.
Ma bouche ne bouge pas, elle boude.
Pedro, ne laisse pas la trahison lever le poignard qui menace ma quiétude.
Reviens et protège-moi de tout ce qui me tue.
Fais-vite, le diable me colle son pas, il me glace le visage de ses doigts impairs.
Inez, Paris Juin 1997

cartas de amor de pedro e inez











Carta de amor de Pedro e Inez

Pedro,
Neste refugio onde a solidao é uma porta que nos fecha a boca,
o meu pensamento todo te é oferecido.
O silêncio testemunha desse dom e a meu recolhimento nele.
Nao quero ver para além do teu corpo que me acolhe e onde me escondo,
nele encontro e bebo o mel do meu consolo.
Para quê este sofrimento que me tolhe a alma,
alagando os campos do Mondego
de tanta lagrima e dor ?

Para onde correm as sombras que caminham neles ?
Julguei mal a minha força, o cansaço fez-me prisioneira
cosendo-me a este espaço onde me guardas do mundo.
Adeus amor, o meu peito jà nao chora de te ver partir
e o meu braço é uma asa desprendida que te acena lentamente.
Senhor, eles jà me mataram antes do punhal.

Inez, Paris, Fevereiro 1994

Le reste est silence










la ronde heureuse devant le public )

Fondation Gulbenkian , Paris.

Le reste est silence


Cartas de amor de Pedro e Inez

Première lettre :

« Depuis que vous êtes parti la fontaine des amours c’est tarie.
Ici tout est devenu lent étiré. Les pierres s’enfoncent dans le marais

honteuses de porter votre oubli.

Sur les murs se dessinent des routes griffées, poreuses.
J’y vois couler des larmes.
Aujourd’hui le soleil blesse mes yeux de sa lumière trop vive.
Je me cache dans la forêt, elle me parle, me caresse la peau.
Près de la carrière mon arbre frémit.
Je pose mon front sur son écorce, le sève monte, ma langue l’accueille.
L’amour attend votre retour pour faire jaillir l’eau à nouveau.
les seins des femmes pointent déjà, des mains se serrent.
Autour de la source un peu de mousse verte grouille de vie et de joie.
Tout bouge en cadence et m’annonce l’évanouissement du jour.
Je vous quitte, le crépuscule envahi la plaine et la maison,
notre maison, est un temple éteint.

Inez, paris, août, 1994



Spectacle présenté au Portugal et à Paris pendant l'année Inesiano,
les 65O ans de la morte d'Inez de Castro la Reine Morte.
D.Pedro- david weiss

Martin, o bobo- guy segalen
La nourrice- au Portugal antonio laginha,
Paris, martine vinsani.
L'auteure- bernadette hildeilfinger
Ineses...emerentienne dubourg, anne savina,
lidia martinez
textes- eduarda dionisio, lidia martinez.
création lumières- patricia godal,
paysage sonore- thierry jousse, emanuel balzani, lidia m.
costumes, éléments scèniques- lidia martinez
manteau de D.Pedro- véronique dandeker
vidèo- kader ramhany
photos: véronique dandeker, guy vivien

merci à tous...
obrigada a Jorge Sampaio e os amigos de Pedro e Inez,
quinta das lagrimas.
merci à monsieur le directeur de la gulbenkian à Paris,
joao pedro garcia et madame de Vasconcellos,
ainsi que josé manuel esteves et adelaide cristovao,
colloque à Nanterre.

le reste est silence


- ( ...) Perdoo-te porque jà esqueci, nao posso fazer de outra maneira; Degolaram-me. Nesse gesto tudo se cristalizou. A morte ficou presa à lâmina e deu-me volta ao pescoço, cortando-me. Fiquei presa a esse instante e tudo foi precipitaçao, maos doridas e sangue a jorrar. Devo ter caido no chao com a cabeça inclinada, os olhos ainda a ver. Deixaram-me ali aberta à noite com o ventre cheio de uma pequenina morte. Nao te lembras? Morremos todos juntos nessa noite. Nao sei se estava escuro por dentro ou por fora, so agora me sinto toda e vazia . Nada importa mais. O perdao nao é para a aqui chamado. Arruma o novo saber com ele e deixa que me liberte deste frontal destino a que me forças-te. Pedro: - Talvez possamos agora experimentar o caminhar lado a lado. Inez: -Talvez...se nao tiveres pressa de chegares a lado nenhum. Pedro: Daqui para diante so o instante conta. Inez: - Isso lembra-me algo de santo! Pedro: - Ouves o acordar do novo mundo? Inez: -Ouço-te a ti e a mim, nada me soa estranho. Pedro: - O ressoar de todos os passos me doem no corpo. Nao ouves os gritos de alegria e as preces de bem-haja? Inez: - Nao sei se vou gostar de viver numa eternidade fora da pedra, desprotegida andei eu quando te amava. Se calhar prefiro esconder-me em caixas, ser perfume de rosas e um lenço de linho com o teu nome bordado. Assim uma coisa que se pode perder no bolso do casaco. Deixa-me percorrer cega a brancura da luz que enxergo. Ser so ela e mais nada, é a essa a libertaçao a que anseio, jà que tanta escuridao me fechou a cara. Mandas-te escrever na pedra " Até ao fim do mundo", agora jà là chegamos. A partir de agora vou por ai cumprimentar a obra divina. Pedro: - Entao a partir de hoje fica tudo por escrever."(...)
" o resto é silêncio "
extracto, LM