vendredi 26 août 2011

este amor



( ... )
no espelho do mundo, este amor.
vou deixà-lo apontado para o sol.
a mao no punhal brilha,
a ponta do aço abre-lhe a carne.
inez cai no chao, é a sua ùltima dança.

os olhos jà longiquos impressionam
a pàgina onde escrevo a Pedro :
«tu nao sabes amor… »

lanço novelos ao mar, bato à porta de estranhos,
anseio pela minha libertaçao.
devolvo-lhe a loucura que me risca a testa, cicatrizo vazios.
fecho os olhos e guardo a beleza no avesso de um linho suado.
o seio de inez molda-se na mao do infante.
ele disse para ela correr, e escreveu na àgua,
o amor que lhe ia na alma.

Carta de amor


Inez,

Père du vent souffles sur ma peine,

sur la pourpre désolée de mes lèvres.

Je sens le benjoin, la myrrhe et le nard,

ils embaument tes cheveux coiffés par Marie.

Ma belle amante, ma toute petite, mon cœur,

il est tard, il est déjà trop tard.

Suis l’étoile… nous sommes si faibles,

l’un est le lieu de l’autre.

Mon dernier cri est pour toi.

Inez, sur ta tombe, pour toi, la rose se plie

de beauté et de velours rouge.

Ton Pedro.

Paris, 2006.

O mito inesiano


Depuis 1982 je creuse autour du mythe et la légende
de leurs amours défendus,
ils deviennent une parole exposée, offerte, offerte !
La vibration de la vie est bien au-delà du silence.
La Reine revient pour changer son destin,
et chaque fois elle nous place face à l’infini.
Elle s’arrache au marais intemporel de l’oubli
et nous place face à sa chute.
Dans le chaos vibrent les corps qui suivent
et portent leurs archéologies.
On vit une expérience du baroque qui façonne sa main
dans l’argile du temps.
Inez comme un faucon aveugle, déploie les ailes et suit le vent.
Derrière roulent les ponctuations éphémères de l’histoire.
Pedro l’habille de soie verte pour la dernière des parades.
Elle remonte les marches et déjà l’oiseau se meurt par la bouche.
Son dernier baiser aura le goût des cendres.
LM, février 2009

Martim, o bobo


Je suis né triste, c’est chose rare pour un bouffon.
Ma tristesse vous fait sourire.
Cet amour est un tourbillon d’étoiles !
Des ailes, il me donne des ailes,
il fait semblant de voler,
sur la pointe des pieds il regarde le ciel.
Demandez à Dieu, qui est le Roi « Saudade « !
Il est le premier, le seul à placer le froid jouet
de la mort sur un trône.

... LM

jeudi 25 août 2011

carta de amor de pedro e inez


Carta de amor d’Inez à Pedro


Je suis votre Cassandre inutile.

Après avoir pleuré, après avoir ri aussi,
j’irai à la fenêtre de notre chambre et je crierai
sur tous vos silences.

Ce soir, je sens la vibration des bambous auprès du lac,
ils soufflent votre prénom, encore…et encore.

Mon tout petit, mon bel amant, mon cœur !

Ce soir, je suis nue dans les plis de nos draps,
nostalgie, nostalgie…

Souffles sur ma peine, sur la pourpre désolée
de mes lèvres.

Sans toi, j’ai les mains déracinées,
elles te cherchent, t’écrivent.


Inez

Paris, 2006.

Carta de amor


Carta de amor de Inez a Pedro

Pedro,

Bem de dia ou de noite,
pedi que me dissesses bem de nos,
e que o amor transbordasse no dobrar
dos lençois.
E que mais filhos viessem desta dor
e com alguns risos, para bem da vida
que nos obrigava a tanto.
E o homem que eras, acolheu oscilante,
essa soledade de menino antigo.
Nessas noites ou meios dias
corriamos as persianas com o dia a empurrar
o amor para a cama.
E desse bem recolhido e aconchegado,
alargado, dizias, se concebiam nesse lavrar
as milagrosas vidas dos filhos que chegavam.
Nada mais pedir que essa dàvida e que mais nao fosse,
talvez o perdao de todas as traiçoes
que avassalavam a nossa sorte…
Nao te espantes agora, filho de um rei,
Que no meu canto distante,
repita baixinho o teu nome, o da infância.
Amando-te tal qual um menino,
Fico de peito cerzido, bordado a ponto cruz.
Desafio-te, invisivel quase,
Com o meu corpo tao bem cuidado,
A querer escorregar para ao pé do teu.
Ah, que a paciência seja bem piedosa
com o desejo !

( outro dia)

Pedro,

Migalha de pao na mao do crente,
amasso o po do leito, deito-me entre o bem
e o mal, sonho e nunca durmo.
Suspira um cao à porta do inferno,
jà me roeu o osso e eu, continuo a subir.
Isto é um mal que veio por bem.
E muita dor e pouca luz,
invisivel mao aguda
maos lilases, mao de passeante,
cumpre a nossa jura
em jardins exaltados com promessas
e desejos alheios, prova tormentos
distâncias e fico eu bem, a descolar
os meus beijos das paredes, juro.
E aqueles que te dei, segredados, molhando-te
os cilios, olha neles a memoria de todas as amantes
e o bem que alimentavam,
enchendo-te o corpo de leite e azulando-te o céu da boca.
Que o bem deste pacto seja o rio
que nao para de te sorver a boca,
de refrescar-te a nuca.

So bem te quero dizia o malmequer à lua,
e pôs-se a crescer mais alto,
como o tornesol e bem-mais-amado
ficou, assim como eu fico, mais perto da Sua luz.

Inez de Castro, Paris 25 de maio de 2008, 2011