mercredi 8 octobre 2008




















Noites...

( a partir da peça O resto é silêncio )

Cançao de embalar do bobo, Martim.

« Lua, lua, lua,

beija de luz, a minha rainha,

num veludo triste de insectos, dorme, dorme Inez.

Aie, que a morte é longa e a noite sem treva,

O nani, ô nani, nani, ô nani,na

Lua, lua, lua, esconde a minha rainha

No seu ninho de pedra.

Dorme, dorme Inez,

O nani, ô nani, nani,ô nani, na.

Martim:

- Eu nasci triste, feito raro para um bobo,

Mas a minha tristeza diverte-vos.

Este amor movimenta todas as estrelas !

Dêm-me asas, quero levanta-lo do chao,

Leva-lo até ao céu.

Perguntem a Deus quem é o Rei Saudade.

Pedro é o primeiro, o unico a instalar

o frio espantalho da morte

sobre o trono.

Tudo à nossa volta reflecte Inez,

cada uma destas arvores conhece a graça do seu abandono.

Armadilhada na dobra do seu manto real,

presa à velha renda cerzida,

treme uma borboleta nocturna.

Ah, sinto vibrar as suas asas

sobre o meu pobre coraçao de bobo!

Meu bom rei da-me pao, da-me pao, eu caio !

( cai no chao ).

De nos dois, tu és o mais triste, o mais corcunda, o mais infeliz…

Partilha este pao e a minha agonia.

Quebra o teu coraçao de pedra, vem morrer comigo

Ao pé da macieira onde a nosaa rainha foi enterrada.

O pomar nos oferece a terra e a sombra,

somos ambos doidos, jà nao durmo,so cavo.

Depois semeio, para te oferecer o fruto seco que cresceu

do chao.

Ah, Pedro, irmao, nao sentes este assopro nocturno

Que nos abala os sentidos?

Gela-se-me o sangue e os meus pés esquivam a pedra humid a.

E o beijo da noite que nos surpreende.

Escorregam frios os seus labios sobre a minha mao.

Aie…aie, Inez baloiça entre dois mundos,

Este crime abriga todo o nosso assentimento.

Ela conhece a lenta cobardia do nosso pesar.

Entre os lirios vibram os insectos armadilhados de luz.

Eu sou aquele que te viu abrir o seu caixao,

Este foi um rapto infeliz para a noite eterna,

uma sincope na respiraçao calma de alguns homens,

uma vénia à beira do abismo, tao triste.

Uma valsa endiabrada no inferno de Vulcano.

Escuta o findar do canto dos monges,

Nao ouves correr ao longe o rio Mondego?

Cada um de nos era um espelho reflectindo

a sua propria imagem e nada se deixava fixar.

O ar cheirava a âmbar, a resina e a morte também…

Dorme, dorme minha rainha, sou eu o teu bobo,

o irmao de giba e de gaguez do teu amante.

Estamos tao sos, sinto a tua alma alumiando a minha.

Deixa-me falar contigo, trago-te a sua confissao.

Ele foi o teu lobo, o carrasco nao te soube perdoar.

Neste teu reino és duas vezes rainha

Tudo foi bom, tudo foi benzido.

Ah, Coimbra foi a nossa mae, tudo floriu,

os campos, as margens, o povo soube-te aclamar.

O rio encheu-se de luzes inclinadas para te saudarem.

Eis-te agora tao proxima duma eternidade de pedra.

Este amor me faz tanto medo !

Chega-me o sono…

Adeus.

Até ao fim do mundo.

LM. Maio 2006

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