dimanche 9 octobre 2011

Conto para Inez


Inez

Uma menina sem molde, bastarda em casa de nobres castelhanos,

crescia a brincar com flores agrupando-as

em ramos coloridos.

Era como muitas outras crianças, feliz e algo inquieta.

No jardim havia um cardo, enrolado ao sol por fios de ouro.

Ele ia abrindo folhas, uma à uma, revelando os picos.

Antecipava-lhe as feridas e alguns perigos.

Aos treze anos fora escolhida para acompanhar Dona Constança

prometida ao infante D. Pedro, filho de D. Afonso IV, rei de Portugal.

Era este um homem zangado, duro e com guerras sempre por acabar.

O infante era indeciso, de poucas falas e com uma pequena gaguês

que o tornava singular.



Antes de partir, Inez sonhara com um rei que tinha uma imponente cabeça de veado.

Ele abria-lhe o corpo enorme e as patas pareciam braços que a apertavam.

Ela desparecia e escondida no seu peito, seguiam juntos pela floresta,

encobertos por uma capa de veludo bordada de folhas, rosas e espinhos.

Os pés d’Inez pousavam sobre os cascos do bicho, parecia um anjo a anunciando

um novo mundo celeste !



A pequena Castro era no sonho, um ser de corpo inteiro e de voz atenta ao seu destino.

O veado atravessou o emaranhado das silvas, saltou cercas e acabou parando

à beira de um rio, onde, baixando a cabeça, para levar àgua à sua sede,

perdeu a menina no leito frio. Inez mergulhou lúcida e sem luta,

deixando-se levar até ao princípio da vida.

Acordou exausta com o lençol molhado de làgrimas.

Levantou-se com alguma tristeza e foi correr

pelo jardim para que o dia lhe abrisse também os braços.

Já esquecida do sonho e da noite pesada, viu surgir um rapaz

que seguia louco um cão tao alto como ele.



Gritava e batia com as mãos para o afugentar…seria ?

O galgo quando viu Inez estancou e foi até ela, deitou-se no chão como um tapete.

Da sua boca ainda a arfar, caiu um pássaro ou que dele restava …

Pedro, era dele que se tratava, saltou para o chão,

vindo de uma escada.Gritou :



- Para ! Larga, larga !!!



Mas o bicho não se mexia, o cão arfava e o pássaro todo branco parecia ter caído do céu

partindo ali o pescoço.



- Raios, gritava Pedro, e pegou numa verga para castigar o cão.



Inez avançou e afoita, disse :



- Nao lhe bata, é o instinto de caçador que o leva

a cometer tais coisas, deixe-o ir.

Pedro ficou pasmado de tais falas e presença.



_ Quem, quem é a menina ?gaguejou ele.

- Sou a Inez e presumo que seja Pedro, o futuro marido

da minha senhora Constança...

- …Sim, sou eu, este, este cão, é…caça tudo.

- Ouvi dizer que vossa senhoria também…

- Eeeeeeu ?

- Sim, que é um caçador exímio.

- Pois, é verdade mas não quero que ele coma

os pássaros das gaiolas do meu quarto.

- É tão bonito…e levanta a asa do bicho morto no chão, parece um anjinho, não é ?

- Por isso, isso…fico furioso quando Garbo os mata !

Tenho de o castigar e levanta a vara contra o cão.

- Não! Deixe-o ir ou ofereça-me este animal… é lindo,

gostaria de o guardar comigo

- Quer o pássaro morto e cheio de sangue ?

- NÃO ! Quero o seu galgo caçador, vou domá-lo e adoçar-lhe o instinto.

- Guarde-o se quiser e venha jantar esta noite à minha mesa.

As sextas temos sempre…codornizes.

- Perfeito, a minha boca é boa.

- De certeza, … que…que…é, a Inez é linda.

- Agora não posso, adeus.



Saiu a correr com o galgo já atràs dela.

Pedro arrumou um chuto no pássaro que foi arrebentar contra um movel baixo.

Gritou ao pagem uma insanidade e sem gaguejar, deu ordem para limpar

o sangue que lhe manchava o chão

da ante-câmara .



LM, julho, 2011

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